Era diferente. Um dia meu. Mas sabe, me deu tanta preguiça de sair
da cama hoje. Abri só um pouquinho a janela pra que eu pudesse ver o sorriso do
sol, que por sinal estava todo alegre e radiante. Mas não deu pra levantar não.
Não sei se a culpa é dessa melancolia que amanheceu comigo mas eu me sinto
sufocada e só quero dormir. E sonhar por mais algumas horas embalada por
Montenegro. Consigo ouvir até agora o toque de Lua e Flor. Ah menino, que coisa
boa! Mas não. O meu momento agora é de Metades e ele me traduz muito bem. Acho
que deixei uma parte de mim esparramada por aí, em algum canto da casa. Na
verdade, há partes de mim por todo canto. Faltam dois dias e eu vou embora
outra vez. Por dentro já choro há décadas. E não vou inteira não. Umas
metades ficam e me fazem lembrar, com saudade, de todo amor que posso ter
agora. E quero aproveitar as próximas quarenta e oito horas. Aproveitar muito.
Mas é assim, né moço? Viver não é brincadeira. A gente vira caco as vezes mas
dá pra colar. Com o tempo cola. Pode apostar. Enquanto não faço as malas, vou
arrumando a bagunça que está dentro de mim, pro peso ser menor. Já andei
jogando um monte de coisa fora. Mas hoje eu quero jogar fora o medo. Gordinho
que só, me deixa sem forças. Por hoje chega! Vou carregar a bolsa de esperança
e vou sorrir. Porque a vida é dura, eu sei, mas eu posso amenizar as
quedas.
Que lindo dia
feio, não?
Wanderly Frota