Dizer
adeus é sempre difícil, eu sei. Nunca estamos prontos pra ver alguém tomando um
rumo diferente do seu quando o que você mais queria era ficar perto. Bem
pertinho mesmo. É que o nosso coração não se acostuma sozinho. Desde o
princípio ele pulsou quando um outro estava pulsando junto. Fomos feitos para
viver em elos, num carinho mútuo. Como um só corpo. É sempre tão difícil dizer
adeus, Zé. É um espanto. O gosto da falta sempre foi ácido demais, pra língua e
pro nosso ser. E é quase impossível educar o nosso paladar nesse caso. Quando
dizemos adeus sem querer, entregamos ao mundo uma vontade nossa e de repente
tudo fica pequeno e vazio. Isso pode durar horas, dias ou anos. E dói. É
verdade. Mas Zé, não temos muitas saídas. É preciso abrir mão de umas coisas
pra que outras entrem. Precisamos nos dar oportunidades novas, se não, ninguém
vai nos dar. Toda escolha traz, em presente, muitas renúncias. E ser humano
nenhum gosta dessa sensação de perda. Esse mundo, Zé, é mesmo um
labirinto. A gente entra sem saber o que tem no final e muito menos se vamos conseguir
sair dele. E nesse trajeto a gente vai esvaziando a mochila e ficando somente com o que realmente importa. E hoje, se eu
precisar me despedir de alguma coisa, isso farei. Mesmo que eu volte com meus
joelhos ralados ou com espinhos na carne. Cicatriza, José. Cicatriza.
Wanderly Frota