Idas

Dona Cila by Maria Gadu on Grooveshark



Dizer adeus é sempre difícil, eu sei. Nunca estamos prontos pra ver alguém tomando um rumo diferente do seu quando o que você mais queria era ficar perto. Bem pertinho mesmo. É que o nosso coração não se acostuma sozinho. Desde o princípio ele pulsou quando um outro estava pulsando junto. Fomos feitos para viver em elos, num carinho mútuo. Como um só corpo. É sempre tão difícil dizer adeus, Zé. É um espanto. O gosto da falta sempre foi ácido demais, pra língua e pro nosso ser. E é quase impossível educar o nosso paladar nesse caso. Quando dizemos adeus sem querer, entregamos ao mundo uma vontade nossa e de repente tudo fica pequeno e vazio. Isso pode durar horas, dias ou anos. E dói. É verdade. Mas Zé, não temos muitas saídas. É preciso abrir mão de umas coisas pra que outras entrem. Precisamos nos dar oportunidades novas, se não, ninguém vai nos dar. Toda escolha traz, em presente, muitas renúncias. E ser humano nenhum gosta dessa sensação de perda.  Esse mundo, Zé, é mesmo um labirinto. A gente entra sem saber o que tem no final e muito menos se vamos conseguir sair dele. E nesse trajeto a gente vai esvaziando a mochila e ficando somente com o que realmente importa. E hoje, se eu precisar me despedir de alguma coisa, isso farei. Mesmo que eu volte com meus joelhos ralados ou com espinhos na carne. Cicatriza, José. Cicatriza. 


Wanderly Frota




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