As estações que atravessam o meu sentir*

Ele é a pessoa mais primaveril que já pintou na minha vida. Até quando o solo está ruim ele insiste em florescer. Em arrancar um broto, por menor que seja. Insiste em enfeitar. Vida. Armário e mesinha. Também tem um pouco de verão. Deve ser pelo olhar. Que arde sempre. Queima até os meus. Deve ser porque me ilumina tanto que eu pareço lua. Só reflito. Meio quieta. Dos frutos acho que nem preciso dizer: amor pra cá, denguinho pra lá. Deixa o vento levar sempre as folhas secas que um dia estiveram bem no topo. Deixa a ventania fazer redomoinho com o que já não cabe. E, num sopro, manda tudo pra longe. Mas como toda coleção de estação, ele também é frio. Que só de tocar dói as pontas dos dedos. Congela tudo, se deixar. É cobertor quando quer. Travesseiro pra eu repousar, quando quer. E embrulha meus pés, pra ficarem aquecidos. Ele é a pessoa mais minha que eu já vi na minha vida. Ele é. Eu não. Eu só assusto.

A que estacionou. Wanderly Frota

Sulla Valentim*