Guri

Lembro até hoje. Era uma noite de terça-feira e você reclamava do seu joelho inchado e ria de mim porque eu tentava descobrir qual era o medicamento usado em casos como aquele. Um fracasso. Eu só usava merthiolate. E em poucos minutos você soube da minha paixão por azeitonas, da minha loucura em ter mudado de cidade e de como eu era cheia de sonhos. Eu soube o mesmo sobre você. E me impressionei por, em tão pouco tempo, conseguir falar sobre absolutamente tudo. Sem pressa, sem medo, sem regras. E era bom. Muito bom. Ainda posso ouvir você me contando suas histórias de infância e sobre o tempo do colegial. Sobre a vida na fazenda e os monstrinhos que rondavam por lá. Acho que nunca ri tanto em toda a minha vida. Acho que nunca gostei tanto de alguém. Já. Mas não da mesma forma, não com os mesmos assuntos, não com a mesma graça, nem com a mesma vontade, nem com tanto em comum. A verdade é que, até hoje, eu espero o telefone tocar pra te ouvir soltar mais uma das suas gracinhas sobre nós e pegar você traçando uma vida inteira em vinte minutos. Desde o oitavo dia do primeiro mês deste ano eu te admiro. E guardo o melhor da gente na minha mente, nos meus sonhos e no meu coração. Eu ainda não consegui dar um nome para esse sentimento que dança de mim até você. E, na verdade, acho que nem precisa. Hoje não espero tanta coisa, apesar de tudo. Aliás, não espero nada. Existem coisas que, quando a gente insiste demais acaba estragando. E eu não quero estragar o elogio que você me fez naquela noite, porque a cota do mês já esgotou. Pode ninguém entender mas eu sei que você vai.

Wanderly Frota


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