Ei, menino! Quero
te falar do que você ainda não sabe. Das tardes que eu passei, sozinha,
imaginando como seria se você estivesse comigo. E dos momentos que eu falava
sobre seu jeito e sobre como eu era feliz só em poder te ver. Eu me lembro de criar histórias tendo nós dois como protagonistas, e me
lembro muito bem que em todas elas você sorria pra mim enquanto prometia que ia
ficar pra sempre. Você não sabe, mas eu tinha você em cada canto do meu quarto:
No criado-mudo, na cabeceira da minha cama, na porta do meu guarda-roupa, nos
meus materiais escolares, nos meus caderninhos de todos os dias e na minha
caixinha de segredos – que eu carrego até hoje. Construí pra nós os sonhos mais
intensos e quis que, de alguma forma, você também sonhasse. Menino, eu decorei
seu endereço mesmo sem ter coragem para te enviar uma carta ou um bilhete que
fosse. Eu anotei seu telefone mas nunca consegui te ligar, por mais que eu
quisesse. Eu sabia sobre o seu prato predileto, sobre sua cor favorita e sobre as
músicas que você ouvia. Eu não sei o que era, mas eu sempre chamei tudo isso de
amor. Porque eu não conseguia explicar – e nem entender direito. E pelo que eu
ouvia os adultos dizerem, deveria ser isso mesmo. Uma espécie de bem-querer, de
medo e de alegria. Eu rascunhei, rasguei, refiz, mas ainda não consegui te
contar tudo o que eu quero. Ei, menino! Quero te falar do que você ainda não
sabe, só não sei quando.
Wanderly Frota
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